ATA DA SEXTA SESSÃO SOLENE DA QUINTA SESSÃO
LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 22.04.1987.
Aos vinte e dois dias do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Sexta Sessão Solene da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada a homenagear a Comunidade Luso-Brasileira, em razão da passagem de seu dia. Às dezessete horas e trinta minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Lideres de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Brochado da Rocha, Presidente do Legislativo; Sr. Emídio da Veiga Domingos, Cônsul de Portugal; Professor Jorge Furtado, Diretor da FESC e representante, neste ato, o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre, Dr. Alceu Collares; Sra. Santa Ineze Domingues da Rocha, Presidente do Instituto Cultural Português; Dr. Armindo Beaux, Presidente da Liga de Defesa Nacional; Professor Irmão Mainar Longhi, Diretor do Instituto de Letras e Artes, representando, neste ato, o Reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; Sr. Diamantino Fernandes, Presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas; Vereadora Gladis Mantelli, 1ª Secretária do Legislativo. A seguir, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade e concedeu a palavra aos oradores que falariam em nome da Casa. O Ver. Brochado da Rocha, em nome do PDT, do PDS, do Ver. Independente Jorge Goularte e na condição de autor da proposição que originou a presente homenagem, lembrou a visita do Sr. Mario Soares, Presidente de Portugal, ao Brasil, discorrendo sobre os objetivos da mesma e sobre os laços que unem os povos brasileiros e português. Historiou sobre o descobrimento do Brasil, as origens e a miscigenação do povo brasileiro. Ao final, destacou a importância e o crescimento da língua e do povo luso na América, Ásia e África. O Ver. Artur Zanella, em nome do PFL, afirmou que a presente homenagem simboliza mais um ato de estreitamento dos laços de amizade que unem Brasil e Portugal. Lembrou que onde houve a colonização portuguesa, a cultura e os laços de afeto entre os povos estão sempre presentes. Ao final, afirmou o especial carinho do povo brasileiro pelo povo português. E a Ver.ª Gladis Mantelli, em nome do PMDB, do PC do B e do PT declarou sua honra em homenagear a comunidade luso-brasileira, afirmou que nesta data se comemoram não só os vinte anos desta comunidade, como se consagram as relações de afeto entre Brasil e Portugal. Afirmou que o perfeito intercâmbio entre os dois Países se deve aos profundos laços da amizade que os une, augurando que estes laços sejam cada vez mais fortalecidos. Ao final, saudou a comunidade luso-brasileira com votos de prosperidade e progresso. Em continuidade, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Sr. Emídio da Veiga Domingos, Cônsul de Portugal, que discorre sobre as relações entre este País e o Brasil e agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Após, o Sr. Presidente fez pronunciamento ao ensejo do encerramento da presente homenagem, convidou os presentes a passarem à Sala da Presidência para a solenidade de lançamento do livro “Gog & Damos – O princípio e o fim de uma raça”, de Ruy Meireles, convocou os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental e levantou os trabalhos às dezoitos horas e dezessete minutos. Ao trabalhos foram presididos pelos Vereadores Brochado da Rocha e Gladis Mantelli e secretariados pelos Vereadores Gladis Mantelli e Hermes Dutra, o último como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Gladis Mantelli, 1ª Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE: Havendo número legal, declaro abertos os
trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear a Comunidade
Luso-Brasileira, em razão da passagem de seu dia.
Solicito aos
Srs. Líderes de bancada que conduzam ao Plenário as autoridades e
personalidades presentes. (Pausa.)
Convido a
fazerem parte da Mesa: Sr. Emídio da Veiga Domingos, Cônsul de Portugal;
professor Jorge Furtado, Diretor da FESC e representante, neste ato, o Sr.
Prefeito Municipal de Porto Alegre, Dr. Alceu Collares; Sra. Santa Ineze
Domingues da Rocha, Presidente do Instituto Cultural Português; Dr. Armindo
Beaux, Presidente da Liga da Defesa Nacional; Professor Irmão Mainar Longhi,
Diretor do Instituto de Letras e Artes, representando, neste ato, o Reitor da
PUC; Sr. Diamantino Fernandes, Presidente do Conselho das Comunidades
Portuguesas.
A SRA. PRESIDENTE (Gladis Mantelli): Com a palavra, o Ver.
Brochado da Rocha, que falará em nome do PDT, do PDS, do Vereador Independente
Jorge Goularte e na condição de autor da proposição.
O SR. BROCHADO DA ROCHA: Sra. Presidente, Srs.
Vereadores e Senhores presentes. Quero deixar, em primeiro lugar, registrada a
minha hesitação. Não sou homem habituado a ler discursos e, via de regra, tenho
quebrado o protocolo nesta Casa em Sessões Solenes não lendo.
Bem poderá
atestar meu ex-colega, mas eterno colega Kleber de Castro, aqui presente. No
entanto, face ao meu temor, face à minha lembrança, face ao meu recordar de
Camões, de Eça de Queiroz, de Alexandre Herculano, resolvi me impor o seguir do
protocolo. Sr. Cônsul, creia é com extrema dificuldade... E me perdoe o ilustre
Diretor da Universidade de Letras o fato de não saber ler muito bem, mas é que,
entre ler muito bem e deixar nos Anais uma homenagem à terra de Portugal, por
que praticamente me alfabetizei lendo as suas obras imortais, me levou a,
talvez, este vão temor, mas é que um temor que registro, não como justificativa
própria, mas como respeito, sobretudo.
(Lê)
“Há datas e grandes efemérides. Há dias que marcam o início, o princípio, a criação e o Gênesis. Felizmente, algumas, que nos são caras, ficaram gravadas indelevelmente no talento de escribas ao registrarem a História.
“À hora de
vésperas, houvemos visto de terra, a saber: Primeiramente de um monte muito
alto e redondo, e doutras terras mais baixas, ao sul dele, e de terra chã com
muito arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs o nome de monte Pascoal.”
Neste trecho
singelo famosa certa de Pedro Vaz Caminha descreve-se o descobrimento do Brasil
pela armada de Pedro Alvares Cabral, em 22 de abril de 1500.
A recente visita
do Presidente de Portugal, doutor Mário Soares, teve, entre outros objetivos
culturais, o de estabelecer normas para a constituição de comissões que, nos
próximos treze anos, organizarão no Brasil e em Portugal, as festividades que
marcarão o quinto centenário de arribada da armada lusitana nas terras que
foram então chamadas de Santa Cruz e mais tarde de Brasil. A atual denominação,
de que tanto nos orgulhamos, designou na cartografia medieval uma das ilhas
imaginárias que se situaria no Atlântico e uma variedade de madeira corante,
que aqui abundava, a Caesalpina Echinata, registrada por Lamarck em 1789 nos
livros de Botânica.
Discute-se até
hoje, entre os eruditos, a internacionalidade ou não do descobrimento e a
prioridade portuguesa do achamento da terra.
A discussão
erudita sobre descobrimento e prioridade não obscuro o fato principal: a partir
de então, o Brasil passou a ser colonizado pelos portugueses, que desde João
Ramalho miscigenaram-se com os índios tupis, gês e guaranis.
A chegada dos
portugueses às praias brasileiras ocorre dentro do mesmo a estupendo ciclo dos
descobrimentos que levaram as quinas lusitanas á Àfrica e à Àsia, onde “novos
rumos ao mundo irão mostrando, e se mais mundo houvera, lá chegara”.
No declínio do
romantismo brasileiro se disse que somos o resultado de “três raças tristes”:
portugueses, africanos e índios. Porém, não são ingredientes capazes de
produzir uma raça tristes no Melting Pot onde se caldeou uma raça resistente e
brava, prudente e simples na administração e na justiça da colônia: quer
amazônica, do sertão de São Paulo, de Minas, da Bahia, do cerrado dos Goiases,
do pantanal de Mato Grosso, dos campos gerais de Curitiba, dos contrafortes da
Serra do Mar em Santa Catarina e no morno e congelado mar de coxilhas do Rio
Grande.
Daí resultou
esta raça brasileira, de homens “enérgicos, resistentes e tenazes”, à qual se
somou a austeridade alemã em 1824, a alegria de viver dos italianos em 1875, e
a determinação dos eslavos, russos e poloneses, tudo temperado pela explosão
sevilhana dos espanhóis de São Paulo e pela extrema audácia dos maragatos
castelhanos no sul. E hoje ainda colorem essa multifacetada civilização do
maior país da América Latina a cintilação dos chineses e a laboriosidade dos
nipônicos.
Foi o resultado
feliz de um projeto ou de uma casualidade? - Nós dispensamos hoje tal discussão
erudita, para afirmar o gênio brasileiro, não apenas soma, mas síntese e
transcendência de todos estes significativos aportes de sangue.
Desde a década
de 1960 - portanto há 27 anos -, comemoramos a Comunidade Luso-Brasileira, que
tem o objetivo único de marcar o início desta aliança de sangue e de
civilizações, casco de que podemos chamar, hoje, com identidade própria, de
raça brasileira.
Até o dia 22
abril do ano 2000 os genealogistas, em sua sistemática, outrora empírica e hoje
científica pesquisa, identificam quinze gerações - três gerações em cada século
-, cada uma delas dando uma parcela de esforços, de inteligência, de cultura e
não raro de sangue para a formação de nosso povo e de nossa Nação.
Neste Dia da
Raça, em que rememoramos a epopéia portuguesa, cumpre acrescentar à narrativa a
colaboração de todos as raças que formam este mosaico humano, tão nítido e
claro como o mais preciso dos vitrais filtrados pela luz do Novo Mundo.
Neste dia também
queremos marcar a importância crescente da língua e da cultura dos povos
lusófonos na América, da Àfrica e da Àsia. O latim bárbaro, temperado aqui e
ali pelos monges cultos, estropeado pelos escribas nos cartórios medievais,
manjado pelos trovadores, resumido pelos mercadores chegou ao extremo da Europa
à proforma da Português, que foi o gelaico ou galego, ainda falado no norte de
Portugal e no oeste da Espanha. Essa Língua, “a última flor do Lácio”, no verso
de Bilac, ainda oscilante, transferiu-se para as ilhas adjacentes e Portugal e
para o ultramar. Restam dessa língua, em perpétua modificação, como acontece
com todas as línguas, o chiado lisbonense transportado para o Rio com a Corte
Portuguesa, em 1808; a fala líquida e transparente dos açorianos do Rio Grande
do Sul, e as vogais abertas, cantantes e harmoniosas que os dialetos africanos
semearam em todo o norte e nordeste do Brasil.
Foi essa língua
deliciosamente modulada - que diz “mãe” e não dá à palavra nenhuma rima, porque
nenhuma mereceria tal honra, que diz “saudade”, que em nenhuma outra língua se
traduz - um dos elementos essenciais, senão o principal, de uma política e
cultural unidade, que se continua na capacidade inaudita de síntese e de
culturas e civilizações. O estrangeiro que por aqui aporta não têm
alternativas: é absorvido delicada e insensivelmente por uma civilização nova
que não se angustia e nem se detém diante de simples, transitórios,
conjunturais problemas econômicos e financeiros.
O Dia da Raça
que hoje repartimos irmamente com Portugal não é apenas uma efeméride que
comemora a continuidade, no tempo e no espaço, de uma herança genética e
cultural. É uma data que assinala o gênio luso-brasileiro capaz de abrigar, sob
essa herança cultural, todas as heranças culturais de quantos ousaram, à
semelhança dos portugueses, abrir picadas nos velhos sertões e nas modernas
cidades brasileiras.” Sou grato. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Artur
Zanella, que falará pela Bancada do PFL.
O SR. ARTUR ZANELLA: Sra. Presidente, Srs.
Vereadores, Senhores presentes, represento aqui o mais jovem partido que tem
assento nessa Casa, o Partido da Frente Liberal.
Pensava eu,
enquanto redigia os apontamentos finais desse discurso, que uma das
caraterísticas que nós herdamos de Portugal é, exatamente, o liberalismo. E
quem fala, creio eu, talvez tenha sido escolhido para representá-los um
vereador que tem uma mescla italiana - Zanella, família toda italiana, a
família paterna, neto de Manoel Ferreira de Araújo, que sempre dizia que seu
pai tivera uma “pequena quinta no Além Tejo”. E dizia-me ele, tão velho quando
o conheci, que o nosso pampa se assemelhava a sua região, que aprendi, hoje,
chamar-se Levilha. Agradeço a aula que recebi nesse momento.
O importante,
hoje, é que nós estamos numa reunião nessa Casa do Povo e reunidos mais uma vez
para estreitarmos os nosso laços de amizade, de cultura, que existem entre os
povos irmãos e entre dois países irmãos que tiveram e mesma origem.
Analisava, também, que às vezes se cometem algumas injustiças, quando nas comemorações de 7 de setembro, comemorações da proclamação da República, se diz, em primeiro lugar, que nos livramos do jogo português e na República se expulsou a Família Real do Brasil, que representava aquela Família Real Portuguesa. E às vezes nós utilizamos os parâmetros de hoje para dizer que aquilo foi uma libertação, quando, na época, foi uma conseqüência lógica da evolução dos povos, que D. João VI tão sabidamente colocou no seu filho, que foi Imperador brasileiro, que voltou a Portugal, onde assumiu o Governo D. Pedro I, aqui, no Brasil, e que hoje traz bem viva esta indagação, esta inquietação mostrando que os nossos relacionamentos se encontram vivos e não são tisnados, não são pintados como o que ocorre nos outros países, onde aquele país que se liberta, aquele país que se torna independente se torna também um inimigo do seu criador, do seu colonizador.
E eu vejo que, em Portugal, com esta cepa lusitana, isso não ocorre, porque, aonde se vai e se encontra a colonização portuguesa se nota que a cultura e os nossos laços continuam sempre presentes. Tão presentes que ainda suscitam discussões em jornais.
E, hoje, inclusive, eu li e capitulo à idéia do cronista Sérgio da Costa Franco na “Zero Hora” de hoje, em que ele traz novamente a discussão. E eu acho que a discussão sempre é boa, porque ela torna o relacionamento cada vez mais aberto, cada vez mais franco. E quando as coisas são questionadas, são discutidas, é porque essas são amadas. E o cronista Sérgio da Costa Franco, hoje, analisando, dizia ter ouvido muitas vezes falar que seria um bem para o País que ele tivesse sido colonizado por franceses, ingleses, holandeses e não pelos portugueses que nunca tiveram aquela ânsia bárbara de conquistas violentas, que nunca tiveram aqueles ar belicoso e guerreiro acima de qualquer coisa. E dizia Sérgio da Costa Franco que o resultado desse outro tipo de colonização que nós temos, a não ser no caso dos Estados Unidos, que é um caso absolutamente especial, que o resultado de todas as colonizações terminaram na fragmentação dos povos e hoje nós temos um território exatamente igual ao território do império do Brasil. Nós não fazemos guerra de conquista, nós temos a mesma língua, uma mesma concepção de vida e isto seguramente existe em função da herança que nós temos do povo português. E isto faz com que estejamos reunidos aqui nesta tarde. Pessoas mais representativas da colônia portuguesa, representantes da população de Porto Alegre que foi fundada por casais açorianos, uma influência direta na fundação da cidade que representamos.
Pediu-me o meu Líder, pediram-me os meus colegas que dissesse simplesmente isto: que eu não procurasse exaltar, que não trouxesse detalhes da cultura portuguesa, porque o mais importante de tudo para nós é que nós estejamos sempre juntos, que nós sejamos amigos. Que, quando um brasileiro for à Europa, entre por Portugal, para ter uma abertura, para ter um início de viagem feliz e saber em outros países que não tiverem a língua portuguesa, saber nesses países, quando tivermos problemas de relacionamento, quando tivermos saudades de nossa terra, que nós tenhamos a consciência que será um final de viagem feliz, porque nós teremos ainda e temos ainda condições de voltar a Portugal. País que eu conheci, que fui lá visitar e que, para mim, representa o segundo lar. Que para mim representa a conformação que neste mundo agitado nós temos, neste mundo entre nações inimigas onde se discute o tamanho de seus exércitos, onde se discute o poder de seus mísseis que podem apagar da terra a humanidade. O Brasil tem, ainda, a comunidade portuguesa espalhada pelo mundo inteiro. Tem, ainda, a sua velha Terra Mãe.
Tem lá um local que serve como o repositório de tudo aquilo que nós queremos, de uma vida tranqüila, de uma vida voltada para os interesses culturais, voltada para aquilo que tem de melhor a humanidade, que é o desejo e a busca da felicidade.
Era isso que eu queria dizer, nesta tarde, em nome da minha Bancada, e dizer aos senhores, finalmente, que representam Portugal. Dar o nosso testemunho de que o nosso povo, a nossa gente, sempre tem e terá o nosso povo, a nossa gente, sempre tem e terá com Portugal um carinho todo especial e um amor filial que nada pagará. Muito obrigado
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Brochado da Rocha): Com a palavra, a Ver.ª Gladis Mantelli, que falará em nome do PMDB.
A SRA. GLADIS MANTELLI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, e Senhores presentes, é com grande satisfação que, em nome do meu partido, PMDB, e também em nome do Partido Comunista do Brasil e do Partido dos Trabalhadores, saúdo os presentes, nesta oportunidade em que comemoramos o Dia da Comunidade Luso-Brasileira. Esta data é comemorada desde 1967, portanto há vinte anos, e acho que isto deve ser ressaltado, visto que estamos comemorando vinte anos não só do Dia Luso-Brasileiro instituído há vinte anos atrás, no dia 22 de abril, como o fato de que se consagraram as relações de amizade existentes entre os dois países, consubstanciada pela identidade étnica e cultural que nos une. O intercâmbio entre as Nações é louvável e enriquecedor para todos. O intercâmbio entre Brasil e Portugal representa, sobretudo, uma grande contribuição para um maior conhecimento e divulgação recíproca das realidades desses dois países irmãos.
Não acreditamos que possamos estabelecer um relacionamento coerente, de intercâmbio cultural, social e econômico, quando não temos identidade com esses países. Não é o que se processa, não é o que acontece entre Brasil e Portugal. E não só pelo fato do Brasil ter sido descoberto pelos portugueses é que existe essa inter-relação, essa ligação afetiva que nos mantém unidos a Portugal. Ela ultrapassa o fato de nós termos sido um país colonizado pelos portugueses.
O nosso desejo é que o diálogo, a colaboração e a troca mútua de conhecimentos entre Brasil e Portugal se faça no decorrer deste ano e de todos os vindouros em que possamos ainda estar vivos, mas os que vierem atrás de nós o continuarão. Temos certeza de que desta forma os laços de amizade e solidariedade que unem os dois países serão cada vez mais fortalecidos.
A cultura brasileira tem em sua existência a marca da cultura portuguesa, e perturbar essa herança, sintonizá-la hoje sempre com as tradições e princípios de que se nutriu no passado, traduzi-la em nossos instrumentos de cooperação bilateral é a obra que se oferece a esta geração.
Portugal é um país que não conheço pessoalmente, mas sim dois de meus filhos. Eles trouxeram-me uma visão muito bonita do carinho, atenção e gentileza do povo português com os brasileiros. Desde o momento em que eles saibam que a pessoa é do Brasil, não se contentam em dar a informação, mas sim levam a pessoa até o local desejado. Esta afetividade com que nós, brasileiros, somos recebidos em Portugal, faz com que sejamos irmãos; não povo irmão porque fomos em algum momento colonizados, mas porque essa integração permanece e permanecerá através do tempo.
Acredito também que o trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Instituto Cultural Português no Rio Grande do Sul é um trabalho que fortalece essas relações entre Brasil e Portugal.
Ao finalizar, queremos reafirmar a nossa fé no futuro desses dois países e saudar a todos com os votos de prosperidade e progresso, e que esta data que hoje comemoramos possa ser comemorada daqui a 50, 100 anos. Muito obrigada. (Palmas.)
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Sr. Cônsul de Portugal, Emídio
da Veiga Domingos.
O SR. EMÍDIO DA VEIGA DOMINGOS: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores e Senhores presentes, gostaria de começar manifestando em nome da
comunidade luso aqui radicada e em meu nome pessoal, o nosso mais profundo
reconhecimento e o nosso maior apreço pela dignidade que mais uma vez os nossos
irmãos brasileiros quiseram dar a este ato de 20 a. comemoração do Dia da
Comunidade Luso-Brasileira, como foi lembrado, conhecido, com a data oficial da
chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, no ano de 1500.
Aqui fica,
portanto, o nosso penhorado agradecimento à egrégia Câmara de vereadores pela
generosa e fidalga hospitalidade aliás prontamente manifestada quando
solicitada pelo Instituto Cultural Português e pela Liga de Defesa Nacional.
Creiam, Sr.
Presidente e Srs. Vereadores, que nos sentimos por isso, extremamente honrados
e muito gratos. Não posso, igualmente, deixar de testemunhar a nossa profunda
emoção pelas calorosas e sentidas palavras que aqui foram proferidas pelos
ilustres autarcas encarregados de prestarem uma homenagem a esta data que nos é
comum.
Hoje mesmo
idêntica cerimônia tem lugar em Portugal, na Cidade de Guimarães, que, como
todos nós sabemos, foi o berço da lusitanidade. Daí talvez que alguns
historiadores não tenham hesitado em localizar as leis brasileiras a partir de
Guimarães e não a partir de 1.500.
Para nos
determos apenas no que se nos afigura essencial, salientaria que do nosso
passado compartilhado ficou um inestimável patrimônio comum que interessa agora
preservar, dignificar, aumentar e valorizar. Quando os parlamentares
portugueses e os parlamentares brasileiros, em 22.3.67, instituíram o dia da
comunidade luso-brasileira, limitaram-se, creio eu, a escolher uma data
comemorativa e dar base jurídica a uma realidade já existente, isto é, a uma
comunidade lingüística e cultural, mas, com este ato, esses mesmos
parlamentares deram um exemplo único para todo o mundo, pois uma comunidade não
se cria por decreto. Ela pode, quanto muito, ser sancionada desta forma, mas para
isso é preciso um sentimento muito especial e alguma coragem. Assim, hoje,
respeitamo-nos como duas nações independentes e soberanas que se vão
diferenciando irmamente com o evoluir dos tempos, mas que estão conscientes de
que perante a sociedade internacional, que conta agora com novos países de
expressão portuguesa, há que cerrar para preservar uma cultura que só a
diferenciação pode enriquecer.
Foi com a
desenvoltura de quem compreendeu tudo isto que Sérgio da Costa Franco
homenageou esta data de forma ímpar e sobretudo corajosa em seu artigo de hoje
intitulado “Comunidade”, cujo tom só um brasileiro poder-se-ia permitir.
Voltando-se para
o futuro, a uma importante componente geo-estratégica e político-econômica no
nosso relacionamento bilateral, que não devemos descurar, um dos exemplos mais
candentes é o da uniformização da ortografia que, infelizmente, tem esbarrado
com alguns obstáculos vindos, sobretudo, de literatos mal conhecedores do
próprio ofício, pois, como é evidente, a escrita é apenas a transcrição da
linguagem e a identificação desta com aquela traduz, ironicamente, uma
ignorância que se ignora ela própria.
Não me tardei
mais com outros exemplos dado que a visita do Presidente Sarney a Portugal e a
recente visita do Presidente Mário Soares ao Brasil, constituíram testemunhos
indesmentíveis de que, para além do afeto, luso ou brasileiro, que sempre
existiu, os nossos dois países começaram a aprender a conhecer-se, melhor, tal
como dois membros da mesma família que, pelo fato de se quererem muito um ao
outro, conhecem-se cada vez menos, ou correm o risco de se conhecerem cada vez
menos. Como disse o Presidente Soares: chegou a vez de o Brasil descobrir
Portugal; o tempo é dos mais novos. Muito brigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Na qualidade de Presidente desta Casa,
cabe-me encerrar esta Sessão Solene que traduz, singularmente, pela palavra
usada pelo Ver. Artur Zanella, pela Ver.ª Gladis Mantelli e por este Vereador,
modestamente, apenas palavras que fazem parte da nossa linguagem diária, que
traduzem os nossos afetos, os nossos laços e a naturalidade do nosso convívio.
Na verdade,
somos, desde 1500, bastante conhecidos, independente de formarmos países
diferentes, como já foi amplamente ressaltado. Guardamos profundas identidades
e, como já foi referido também, quando adentramos à Europa temos, seguramente,
naquilo que se convencionou chamar de Velho Mundo, a nossa cidadela, a cidadela
de Portugal que guarda, para nós, aquilo que também foi dito nesta Casa com absoluta
naturalidade e que traduz uma absoluta segurança a nossa conversa, traduz a
nossa intimidade, a nossa confiança recíproca e, sobretudo a segurança que
devotamos na fraternidade recíproca.
É verdade, Sr.
Cônsul, que houve leis, decretos, houve medidas, mas, sobretudo, independentes
de governos diferentes, de governos às vezes não coincidentes, às vezes não
queridos nem por nós, nem pelos outros, de Portugal, é verdade que sempre
guardamos entre nós uma profunda estima, um profundo respeito e um profundo
carinho.
Acredito que
devemos a Portugal não propriamente e descoberta, mas devemos a Portugal, pela
sua formação, pela cultura, que nos deu a possibilidade de não só não
cometermos os atos de periculosidade ou invasão referida pelo Ver. Artur
Zanella, mas, sobretudo, conservarmos a nossa unidade, acho que é uma das
heranças culturais, sociológicas mais flagrantes que podemos colher.
Por tudo isto
somos gratos, e independente do mar que nos separa e independente dos países
que nos separam a nossa identidade foi passada a limpo neste dia, nesta hora. E
possamos nos abraçar fraternalmente como se fôssemos exatamente os mesmo de
então para hoje, num mundo diferente, num mundo confuso, num mundo sobretudo
pautado por concorrência, agressividades, dificuldades, guardamos entre nós,
dentro da nossa singeleza, dentro da nossa fraternidade, guardamos um respeito
mútuo, um carinho a tal ponto que podemos que os nossos irmãos portugueses
estão conosco, assim como nós estamos com eles, dizendo que os problemas que
atingem os nossos irmãos portugueses fatalmente nos atingem e nos chamam a
atenção no nosso cotidiano. Acompanhamos Portugal porque, de certa forma,
Portugal é o nosso representante em outras terras.
Isto é uma
sensação, isto é um sentimento que guardamos às vezes não muito
conscientemente, mas que fatalmente num momento mais forte de crise, de
dificuldade, ocorre a todos nós.
Antes de
encerrar a Sessão, quero agradecer a presença dos senhores componente da Mesa,
das senhoras aqui presentes, que muito honram, assim como os demais
participantes desta reunião, fazendo coro com a Ver.ª Gladis Mantelli,
esperando que esta data se repita com a singularidade, com a singeleza do dia
de hoje, que possamos continuar com esta vivência.
Convido a todos
os presentes a passarem ao Salão Nobre desta Casa para a solenidade de
lançamento do livro “Gog e Damos - o princípio e o fim de uma raça”, de Ruy
Meireles.
Sou grato. A
honra foi desta Casa.
Nada mais
havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos da presente Sessão e convoco
os Srs. Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental.
Estão levantados
os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às
18h17min.)
* * * * *